João Calvino e a Teologia dos 2 Reinos (Parte 2)

Seguindo com as afirmações do grande teólogo.
Afirmando a distinção entre o corpo e a alma, entre o reino espiritual e o natural, afirmando que pela liberdade cristã, estamos livres das formas fixas do pensamento do reino civil de Israel, podendo até mesmo ser um escravo naturalmente, porque o reino de Cristo não consiste de coisas naturais.

Mas aquele que sabe distinguir entre corpo e alma, entre a presente vida que é passageira, e a vindoura que é eterna, dirá com muita clareza que o reino espiritual de Cristo e o poder civil são realidades bem distante entre si. E, uma vez que é um devaneio judaico procurar ou limitar o reino de Cristo aos elementos do mundo, julgamos que é espiritual, como abertamente a Escritura ensina, o fruto a ser recebido mediante a graça de Deus, de sorte que estejamos dispostos a manter a liberdade que nos é prometida e oferecida em Cristo. Ora, por que o Apóstolo que nos recomenda a firmeza, a fim de não recairmos no julgo da servidão (Gl 1.4), iria proibir, noutra passagem, que os servos se preocupassem com a sua situação, visto que a liberdade espiritual pode coexistir perfeitamente com a escravidão civil (1 Co 7.21)? Pois é justamente nesse sentido que devem ser compreendidas as palavras que se seguem: “Não há judeu nem grego, nem incircuncisão nem circuncisão, bárbaro, cita, servo, livre, ao contrárioCristo é tudo em todos” (Cl 3.11). Com essas afirmações, ele pretende dizer que é indiferente a condição em que nos encontramos, bem como as leis de que país vivemos, porquanto o reino de Cristo não consiste nessas coisas.1

  1. CALVINO, J. Instituas da Religião Cristã, Ed. UNESP, Tomo 2, Livro 4, Cap 20.1, p. 876 ↩︎

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