Erros de Armínio (Parte 1)

Erros diversos do teólogo Jacó Armínio extraídos das suas obras compiladas pela CPAD com o título “Coleção – As obras de Armínio”

  1. Armínio e a crença na possibilidade de salvação sem a pregação do evangelho

Um dos erros do opositor do Calvinismo e do Luteranismo, ou do Monergismo como um todo, Jacó Armínio foi a crença na possibilidade de salvação à parte da pregação ou chamado exterior da Palavra.

Na obra Apologia Contra Trinta e Um Artigo Difamatórios que pode ser encontrada no primeiro volume da tradução da CPAD

“Artigo XVIII
Sem dúvida, Deus converte, sem a pregação externa do Evangelho, um grande número de pessoas ao conhecimento salvador de Cristo, entre elas [ubi est] as que não tiveram uma pregação externa; e Ele realiza tais conversões, seja pela revelação interna do Espírito Santo, seja pelo ministério dos anjos. (BORRIUS e ARMÍNIO)”

Armínio nega a afirmação quanto a si mesmo, mas aceita a doutrina ou sentimento quanto  Borrius, negando porém, partes da afirmação :

“Eu nunca proferi um sentimento como esse. Borrius disse algo parecido com isso isso, embora não exatamente a mesma coisa”

Porém, o opositor dos Calvinistas afirmou a mesma doutrina e sentimento de Borrius, ainda na mesma resposta, negando apenas a extensão para com muitos ou como sendo algo ordinário:

“A seguir, vem um texto muito comum e frequente: ‘O meio comum e o instrumento da conversão é a pregação da Palavra divina por homens mortais, e ela, portanto, estão ligadas todas as pessoas; mas o Espírito Santo não se prende a esse método, de modo a ser incapaz de operar de uma maneira extraordinária, sem a intervenção da ajuda humana, quando lhe parecer bom’. Agora, se nossos irmãos tivessem refletidos que essa sentença tão comum obtém nossa maior aprovação, não teriam pensado em nos acusar com esse artigo, pelo menos não o teriam considerado errôneo.”

Assim, embora, inicialmente ele negue a fala ou sentimento, depois ele explica uma concordância com o mesmo sentimento de Borrius, afirmando a possibilidade desse chamado interno sem a pregação da palavra, embora com a comunicação dela no interior do homem: “desde que, ao mesmo tempo, seja declarado que ninguém é convertido, exceto por essa mesma palavra, e pelo significado dessa palavra que Deus envia pelos homens àquelas comunidades ou nações que se propôs a unir a si mesmo.”

Implicando assim, em possibilidade de salvação sem a pregação do evangelho.

  1. Armínio negou também a certeza da perseverança dos Anjos no céu ou a impossibilidade da queda 

Um dos erros de Armínio e que poucos falam (na verdade, até eu mesmo ler isso, não soubera por outro que tal era a posição do sinergista) é quanto a sua crença na “incerteza da perseverança dos anjos no céu” ou “que não se pode provar que os anjos não vão mais cair”. E isso ele disse considerando textos bíblicos diversos e a posição dos pais, não sendo então uma posição de um mero neófito ou ignorante, como demonstrado abaixo.

“Artigo XX

Não é possível provar, com base nos textos sagrados, que os anjos agora são confirmados em seu estado”

Embora o opositor da soteriologia reformada tenha negado a sua autoria quanto ao artigo “está cheio de calúnias”, saindo por escanteio como noutras partes. Ele afirmou, ainda na mesma resposta, seu ponto quanto ao artigo: “Sei o que foi escrito por Agostinho e outros patriarcas, a respeito da condição dos anjos, sobre a sua bem-aventurança, a sua confirmação no bem e a certeza pela qual eles sabem que nunca deixarão essa condição.” e depois “Mas, quando examino os argumentos que apresentam, para respaldar a afirmação, eles não me parecem possuir tanta força que possa dar-lhe o direito de ser prescrito como uma crença a outras pessoas, como um artigo de fé aprovado”

Logo após, ele negou a impossibilidade de se firmar a questão de forma escriturística, ou, no mínimo sendo algo muito difícil de se fazer: “que não se pode, sem grande dificuldade, ser decidida com base nas Escrituras”. Diminuindo também o valor de tal verdade: “terá pouca utilidade para nós”

Assim, resumidamente, Armínio quanto a essa questão específica dos anjos mostrou:

  1. Desconhecimento bíblico ou uma interpretação bíblica minimamente diferenciada, não considerando os “anjos eleitos” de 1Tm 5:21
  2. Desconsideração ou não insatisfação com a interpretação dos pais num assunto de mais geral aceitação, rejeitando a posição de St. Agostinho.
  3. Impossibilidade para ver a correta Analogia da Fé quanto a “Mas serão como os anjos no céu” de Mt 22:30, buscando um tipo de literalismo contextual à parte da Analogia da Fé e da potência dita por Cristo no texto.
  4. Ser um objeto da reprovação de Cristo quanto ao desconhecimento do poder de Deus, como os saduceus.Como por conta do 3, desconsiderando também ao poder de Deus que foi atribuído por Cristo ao citar a atualização dos eleitos a serem como os anjos, no mesmo capítulo de Mateus 22.
  5. Ignorância da Palavra de Deus, como os saduceus que tiveram a resposta de Cristo “a palavra de Deus”, não lendo Mateus 18:10 como prova de realidade metafísica, como “Jesus fez ao dizer que Deus diz que é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó” e que Deus não é Deus de mortos, mas de vivos. 
  6. Ser um tipo de biblicista. Assumindo para a questão.
  7. Incapacidade intelectual, espiritual e pastoral. Não conseguindo ver a Palavra e as verdades divinas derivadas dela como meio de graça para coisas externas a nós, comunicando mais certeza quanto a nossa própria salvação, quanto ao ser de Deus e a providência, que causam alegria no rebanho de Cristo.

3. Afirmou que um crente poderia viver sem pecado

“Artigo XXIX (IX)

Os crentes podem perfeitamente obedecer à Lei e viver no mundo sem pecado”

Novamente, Armínio começa negando a afirmação e sentimento: “Isso é algo que eu nunca disse”, mas pouco depois diz que citou a posição favorável de Agostinho a frase: “eu me abstive de responder, mas citei a opinião de Agostinho”, a qual resumidamente Agostinho diz: “confessarei que é possível, pela graça de Deus, e pelo livre-arbítrio do homem.”

Alguém poderia objetar: “Ahh, mas essa é apenas a posição de Agostinho que foi citada por Armínio. Pelo menos, ele não afirmou isso.” Mas a verdade é que Armínio concordou com a resposta de Agostinho nisso: “Não sou contrário a essa opinião a essa opinião de Agostinho, mas não entro em disputa em nenhuma parte da questão.” 

Após tal afirmação, ele levantou a possibilidade de alguém questioná-lo quanto a questão 114 do catecismo, cuja resposta para a pergunta da possibilidade de observar os mandamentos perfeitamente, ele mesmo reconheceu a resposta do catecismo “A resposta é [minime] ‘De maneira nenhuma'”, mas a rejeitou, porém de forma “inteligente”, atribuindo significados distintos por meio do texto bíblico citado como prova na questão do catecismo:

“respondo que não digo nada contra ela, mas a razão da resposta negativa [ou da prova escritural acrescentada] é a respeito do ato, quando a pergunta, propriamente dita, é a respeito da possibilidade, e portanto a esse respeito nada é provado.”

Note que Armínio consegue perceber a contrariedade ou divergência que há entre a sua posição pessoal e a do catecismo, “nada é provado”. Ele sabia que essas posições não eram comuns ou aceitas entre os reformados de forma geral. E por isso todo o esforço dele em sair por escanteio, em fugir da questão, ou, na nossa forma brasileirada “dar o zignow” ou usar do “jeitinho brasileiro”. Essa mesma forma dele é encontrada em diversos debates e discussões, sendo muito minucioso, possivelmente, para não ser acusado de incompatibilidade com a confissão e o catecismo, ou pior, de ser acusado de heresia.

No final, o mais claro é que a posição do Jacó era diferente da posição reformada comum.

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