As Confissões Reformadas e a Teologia dos 2 Reinos

Definição da Doutrina

A Doutrina dos 2 Reinos pode ser definida como: Deus possui 2 Reinos em que governa o seu povo (igreja) e a humanidade, ou toda a criação, um por vínculo natural e outro por vínculo especial.

Mais amplamente, se explica numa distinção entre Reino da Criação, Reino Comum, ou Reino dos Homens, que é governado por Deus como Criador, e o Reino da Redenção, Reino de Deus, ou Reino da Graça, que é governado por Deus, mas especificamente por Jesus como Redentor. Esses 2 Reinos diferentes também são comumente chamados de “Mundo” e “Igreja”.

O primeiro se dá em virtude do Ser de Deus e do seu ato criador (Decreto-Obra da Criação na Semana da Criação), o Segundo se dá em virtude da Obra de Jesus e do seu ato redentor(Sua Morte e Ressurreição).

Quanto à abrangência, o Reino dos Homens abrange todo homem, é o reino comum em que todo homem participa e é legislado pela Lei Natural, da qual os 10 mandamentos derivam. Já o Reino de Deus abrange apenas a sua igreja, é o reino especial em que apenas o povo de Deus participa, os crentes professos são os súditos e beneficiários do Reinado de Jesus. Assim como o Reinado, os outros 2 ofícios de Cristo como Sacerdote e Profeta estão atados diretamente à Igreja, sua Família, assim, não apenas a Lei Natural é o objeto de Direção e condução dos súditos, do Povo de Deus, mas toda a Palavra que sai da boca de Deus, os mandamentos positivos circunstanciais ao Evangelho (como batismo e ceia), são mandamentos apropriados e diretos para o povo de Deus, sua Igreja.

O amor e a graça dados também se diferenciam quanto aos 2 Reinos. Enquanto no Reino dos Homens (Reino da Criação), Deus só ama e abençoa de forma providencial, pelo seu amor para com toda a criação e o seu amor para com todo homem, no Reino de Deus (Reino da Redenção), Ele também abençoa de forma especial, seu amor especial e salvífico para toda a sua Igreja, e a orna de toda sorte de bênçãos espirituais como também bênçãos especiais derivadas da sua união a Cristo, e da sua providência especial em promessas como “As portas do inferno não prevalecerão”.  

Quando o Senhor Jesus voltar, o reino de Deus será amplamente aperfeiçoado e englobará (absorverá) o Reino dos Homens, de forma que a criação que “agora geme” e espera pelo dia da glorificação dos filhos de Deus, será liberta. E com ambos os reinos unidos, teremos um só reino, o Reino da Glória.  

Confissão de Fé Belga

A Igreja é o Reino de Deus Visível aqui na Terra, em que Ele tem seus crentes eleitos desde o início do tempo, e até o fim(Art XXVII). Ela é formada dos crentes de todas as épocas, todos súditos de Deus, retirados do Reino Comum do mundo para seu Reino especial, e ela segue todo o conselho de Deus, e não é governada, como o Mundo, pelos reis e autoridades comuns (Art XXXVI), mas antes esses reis que governam o Reino dos homens devem reinar corretamente no reino dos homens para castigar os maus e honrar os bons, e também para promover esse Reino de Deus, protegendo e favorecendo a Igreja.

Artigo XXVII, A Igreja Católica ou Universal
Cremos e confessamos uma só igreja católica ou universal. Ela é uma santa congregação e assembléia dos verdadeiros crentes em Cristo, que esperam toda a sua salvação de Jesus Cristo, lavados pelo sangue dEle, santificados e selados pelo Espírito Santo.
Esta igreja existe desde o princípio do mundo e existirá até o fim. Pois, Cristo é um Rei eterno, que não pode estar sem súditos. Esta santa igreja é mantida por Deus contra o furor do mundo inteiro, mesmo que ela, às vezes, por algum tempo, seja muito pequena e na opinião dos homens, quase desaparecida. Assim, Deus guardou para si, na perigosa época de Acabe, sete mil homens, que não tinham dobrado os joelhos a Baal.

Artigo XXXVI, O Ofício das Autoridades Civis
Cremos que nosso bom Deus, por causa da perversidade do gênero humano, constituiu reis, governos e autoridades. Ele quer que o mundo seja governado por leis e códigos, para que a indisciplina dos homens seja contida e tudo ocorra entre eles em boa ordem. Para este fim Ele forneceu às autoridades a espada para castigar os maus e proteger os bons (Romanos 13:4).
Seu ofício não é apenas cuidar da ordem pública e zelar por ela, mas também proteger o santo ministério da igreja a fim de impedir e exterminar toda idolatria e falso culto a Deus, destruir o reino do anticristo e promover o reino de Jesus Cristo e a pregação da Palavra do Evangelho em todo lugar, para que Deus seja honrado e servido por todos, como Ele ordena na sua Palavra.

Segunda Confissão de Fé Helvética

A Igreja, que é a comunidade dos fiéis, é convocada e reunida do Reino dos Homens, do mundo (Artigo XVII). Ela é o Reino de Deus, também chamado de Reino dos céus, na linguagem da confissão (Artigo XIV). As suas chaves especiais não foram entregues ao magistrado como é no Reino dos Homens, mas foram entregues aos apóstolos e demais ministros do evangelho, para abrir e fechar o Reino (Artigo XIV). Os santos são tanto cidadãos do Reino dos Homens, quanto cidadãos do Reino de Deus, dos quais mesmo por diferentes Igrejas locais, são todos concidadãos da mesma Igreja, o mesmo Senhor, as mesmas leis e benefícios, os quais o reino comum não tem.

Artigo XIV. Das chaves do Reino do Céu. Quanto às chaves do Reino de Deus, que o Senhor entregou aos apóstolos, muitos tagarelam inúmeras coisas espantosas, e com elas forjam espadas, lanças, cetros e coroas, e pleno poder sobre os maiores reinos, e, afinal, sobre almas e corpos. Julgando de modo singelo, segundo a Palavra do Senhor, dizemos que todos os que são legitimamente chamados ministros possuem e exercem as chaves, ou o uso das chaves, quando anunciam o Evangelho; isto é, quando ensinam, exortam, confortam, repreendem e exercem a disciplina sobre o povo confiado aos seus cuidados.
Abrir e fechar (o Reino). Desse modo abrem o Reino dos Céus aos obedientes e o fecham aos desobedientes. O Senhor prometeu essas chaves aos apóstolos em Mat, cap.16, e as deu em João, cap. 20, Marcos, cap. 16 e Lucas, cap.24, quando enviou seus discípulos e os mandou pregar o Evangelho a todo o mundo, e perdoar pecados.
Os ministérios proclamam a remissão de pecados. Assim, eles perdoam pecados. Abrem, assim, o Reino dos Céus e nele introduzem os crentes: mui diferentemente daqueles de quem o Senhor fala no Evangelho: “Ai de vós, intérpretes da lei! porque tomastes a chave da ciência; contudo, vós mesmos não entrastes e impedistes os que estavam entrando” (Luc 11.52).

Artigo XVII, Que é a Igreja.
A Igreja é a assembléia dos fiéis convocada ou reunida do mundo: é, direi, a comunhão de todos santos, isto é, dos que verdadeiramente conhecem, adoram corretamente e servem o verdadeiro Deus em Cristo, o Salvador, pela palavra e pelo Espírito Santo, e que, finalmente, participam, pela fé, de todos os benefícios gratuitamente oferecidos mediante Cristo. Cidadãos de uma comunidade. São todos eles cidadãos de uma só cidade, vivem sob o mesmo Senhor, sob as mesmas leis, e na mesma participação de todos os benefícios. O apóstolo os chamou “concidadãos dos santos, e… da família de Deus” (Ef 2.19), denominando “santos” os fiéis na terra (I Co 4.1), que são santificados pelo sangue do filho de Deus. Deve ser entendido inteiramente com relação a estes santos o artigo do Credo: “Creio na santa Igreja Católica, na comunhão dos santos”. 

Primeira Confissão de Fé Batista de Londres de 1644


O Reino de Cristo que Ele obteve pela sua obra da redenção é a Sua Igreja (Art XIV e XXXIII) , a companhia de crentes, e de crentes apenas(XXXIII). Nela, Ele Reina, fortalece o seu povo, o preserva até o fim (Art XX, XXXII e XXXIV). Quando Ele voltar, o seu Reino será estendido sobre toda a Terra, e esse Reino não terá fim (Art XX e XXXII).

Artigo XIV.

Este ofício para o qual Jesus foi chamado, é de três aspectos: Profeta, Sacerdote e Rei,e o fato de que são três é necessário: por causa de nossa ignorância precisamos dele como profeta; quanto ao nosso distanciamento de Deus, precisamos de seu ofício de Sacerdote para nos reconciliar com Ele; e quanto a nossa adversidade e inabilidade para retornarmos a Deus, precisamos de seu ofício de Rei para nos convencer, subjugar, atrair e preservar para seu reino celestial.

Artigo XX. 

Este reino será plenamente aperfeiçoado quando Ele vier pela segunda vez com glória para reinar entre seus santos; e para ser admirado por todos os que crêem; quando derrubará todo reino e autoridade e os porá sob seus pés; para que a glória do Pai possa ser plena e perfeitamente manifestada em Seu Filho, e a glória do Pai e do Filho em todos seus membros

Artigo XXXII. 

O único poder pelo qual seja possível para os santos enfrentar toda oposição e resistir as aflições, tentações, perseguições e provas, recebem-no de Jesus Cristo, o qual é o Capitão de sua salvação, sendo feito perfeito pelo sofrimento e quem tem colocado seu poder para ajudá-los em todas sus aflições e para sustentá-los sob as tentações e para salvaguardá-los por seu Poder para seu Reino Eterno.

Artigo XXXIII. 

Cristo tem aqui na terra um Reino espiritual, que é a Igreja que ele adquiriu e redimiu para si, como uma herança particular. Esta Igreja, como nós a vemos, é uma companhia de santos visíveis, chamados e separados do mundo pela Palavra e o pelo Espírito de Deus, para a confissão visível da fé no Evangelho, sendo batizados pela fé e incorporados ao Senhor e unidos uns com os outros, por um acordo mútuo, na prática das Ordenanças estabelecidas por Cristo sua Cabeça e Rei.

Artigo XXXIV

A esta Igreja Cristo fez suas promessas e a ela apresentou os sinais de seu Pacto, sua presença, amor, bênção e proteção. Aqui se encontram todas as fontes e mananciais de sua Graça celestial que continuamente fluem. Para a Igreja devem todos os homens vir, de toda classe, para confessarem a Cristo como seu Profeta, Sacerdote e Rei e para serem arrolados entre os servos da Casa, para estarem sob seu governo, e para viverem dentro do redil, dentro do jardim regado, para terem aqui comunhão com os santos, e para serem participantes da herança no Reino de Deus.

Segunda Confissão de Fé Batista de Londres 1689

A Igreja é o Reino de Deus por meio de Jesus Cristo, o qual rege com seu ofício de Rei pela sua Redenção. Como Mediador, Ele reina convencendo, libertando e nos preservando (Cap VIII, Artigo X). A Confissão afirma isso também ao falar do Reino de Jesus no Capítulo sobre a Igreja (Cap XXVI) e ao dizer “Cristo sempre terá um reino neste mundo, até o fim do mundo”, mesmo que diversas igrejas estejam mais ou menos puras.

O Ofício de Cabeça e Rei da Igreja é também executado por Cristo no chamamento dos eleitos dados pelo Pai que estão no Mundo, conquistando gradualmente até o fim, quando Jesus voltar.

Capítulo VIII, Artigo X

XX. Esse número e ordem de ofícios são necessários. Precisamos de Seu ofício profético, por causa de nossa ignorância. Por causa de nossa alienação de Deus e da imperfeição de nossos melhores serviços, nós necessitamos de Seu ofício sacerdotal para nos reconciliar e apresentar aceitáveis a Deus. E no que diz respeito à nossa aversão e incapacidade absoluta de converter-nos a Deus, e para o nosso resgate e segurança contra nossos adversários espirituais, precisamos de Seu ofício real para nos convencer, subjugar, atrair, sustentar, libertar e preservar para o Seu reino celestial.

Capítulo XXVI, Artigo III e IV

III. As igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro, e algumas tanto se degeneraram a ponto de tornarem-se não mais igrejas de Cristo, mas sinagogas de Satanás; no entanto, Cristo sempre teve e sempre terá um reino neste mundo, até o fim dele, para aqueles que creem nEle e fazem profissão de Seu nome.

IV. O Senhor Jesus Cristo é o cabeça da igreja, em Quem, pela designação do Pai, todo o poder de chamado, instituição, ordenação e governo da igreja está investido de uma forma suprema e soberana; nenhum Papa de Roma pode, em sentido algum, ser a cabeça dela, antes é aquele anticristo, o homem do pecado e filho da perdição que se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus, a quem o Senhor destruirá com o esplendor de Sua vinda.

Confissão de Fé Batista de New Hampshire

A Lei de Deus, ou aqui, a Lei moral é uma lei para toda a criação, todo o governo moral. Assim, se aplica ao Reino dos Homens e rege a todos. Porém, não podendo salvar, se não apontar a fraqueza para que Cristo, por meio do seu Reino demonstre o seu Evangelho, e assim pelo chamamento da Palavra, a conversão alcance os eleitos de Deus, e eles, como parte do Reino da Redenção recebam também os demais meios de graça e sejam fortalecidos, guiados e protegidos com toda a Igreja de Cristo.

Esse Reino é governado pelas leis de Cristo, recebe seus dons, direitos e privilégios como povo especial e distinto.

Artigo 12. Da Harmonia da lei e do Evangelho

Cremos que a Lei de Deus é a regra eterna e imutável de seu governo moral; que ela é santa, justa, e boa; e que a incapacidade que as Escrituras atribuem aos homens caídos de cumprir seus preceitos provém inteiramente de seu amor ao pecado; livrá-los disso, e restaurá-los através de um mediador à obediência não fingida à santa Lei, é um grande fim do evangelho, e dos meios de graça associados com o estabelecimento da Igreja visível.

Artigo 13. De uma Igreja Evangélica

Cremos que uma Igreja visível de Cristo é uma congregação de crentes batizados, associados pelo pacto na fé e comunhão do evangelho; observando as ordenanças de Cristo; governados por suas Leis, e exercitando os dons, direitos, e privilégios investidos neles pela sua Palavra; que seus únicos oficiais bíblicos são bispos, ou pastores, e diáconos, cujas qualificações, reivindicações, e deveres são definidos nas epístolas a Timóteo e Tito.

Uma Confissão Verdadeira (Congregacional)

Jesus é o Rei da Igreja de Deus para sempre (Art X). Assim Ele, e nenhum rei comum, executa seu ofício de Profeta, Sacerdote e Rei de forma geral para o seu Povo (Art XII). Tais ofícios, Ele o tem como Mediador, e isso da Igreja de Deus, não podendo ser transferido para nenhum outro fora dEle (Art XII).
O seu Reino começou após sua ressurreição e ascensão (Art XV), recebendo todo poder nos Céus e na Terra (Art XVI), para governar diretamente a sua igreja pela salvação, preservação e crescimento, por meio dos seus benefícios (Art XVII), virtudes etc, e para por meio dela anular e destruir os reprovados, entregando-os aos seus pecados.
Esse reino será perfeitamente aperfeiçoado quando Cristo voltar e subjugar todos os povos e então será um só Reino (Art XVI).

 Artigo X.
Que no tocante ao Seu Ofício, Ele é o único feito o Mediador do Novo Testamento, mesmo do Pacto Eterno da Graça entre Deus e o Homem, para ser perfeitamente e completamente o Profeta, Sacerdote e Rei da Igreja de Deus para sempre.
Artigo XII.
Que esse Ofício de ser o Mediador, que é Profeta, Sacerdote e Rei da Igreja de Deus, é apropriado a Ele, que não pode em nenhum tempo, nem em nenhum lugar, portanto, ser transferido dEle para qualquer outro.
Artigo XV.
Que no tocante ao Reino, tendo sido ressuscitado, ascendido, adentrado na glória, assentado à direita de Deus, todo o poder nos Céus e na Terra foi dado a Ele, o poder sobre o qual Ele exerce sobre todos os Anjos e homens, bons e maus, para a preservação e salvação dos eleitos, para anular e destruir os reprovados; comunicando e aplicando os benefícios, virtudes e frutos da Sua profecia e sacerdócio nos seus eleitos, a saber, a remissão, dominação e expiação dos seus pecados, para sua justificação, adoção de filhos, regeneração, santificação, preservação e fortalecimento em todos seus conflitos espirituais contra Satã, o mundo e a carne, continuamente habitando, governando e mantendo seus corações na sua verdade e no temor do seu Espírito Santo, que tendo uma vez sido dado, Ele nunca é retirado deles, mas pela sua permanência ainda gera e alimenta-os no arrependimento, fé, amor , obediência, paz, alegria, esperança e todas as virtudes cristãs, na imortalidade…
Artigo XVI
Que este Reino será plenamente perfeito quando Ele vier pela segunda vez, em glória, com seus poderosos Anjos no julgamento, para abolir toda regra, autoridade e poder, para colocar todos os inimigos debaixo dos seus pés, e levar os santos consigo a uma glória sem fim, e então entregar o Reino a seu Deus, e Pai, para então a glória do Pai ser completamente e perfeitamente no Filho, a glória do Filho e em todos os seus membros, e Deus ser tudo em todos.
Artigo XVII.
Que para essa Igreja, Ele fez promessas, e deu selos do seu Pacto, presença, amor e proteção… Aqui ele é levado a todas as nações, e Ele convida todos para a sua ceia, seu banquete administrativo, e que todo homem de todos os estados e graus que o conheçam como seu Profeta, Sacerdote e Rei, para serem adicionado entre os servos da sua casa, para estarem debaixo da sua condução e governo celestiais, para liderar suas vidas em seu redil murado e pomar regado, para ter comunhão com os Santos, para que eles sejam feitos participantes da sua herança no Reino de Deus.

Declaração de Fé de Savoy (Congregacional)

A Igreja é o Reino de Deus por meio de Jesus Cristo, a qual sempre existirá, até o retorno de Cristo(Art 3). A Confissão deixa claro o ponto da Igreja visível, e diz que Cristo é o único cabeça dela (Art 4). 

Também são explícitos o amor e proteção especial de Cristo para com a Igreja, de forma que, num determinado tempo, os inimigos da Igreja devem ser destruídos, e ela aumentará(Art 5).

Capítulo XXVI, Artigo 3-5

3. As Igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas tanto à mistura e ao erro, e algumas tanto se degeneraram a ponto de tornarem-se não mais Igrejas de Cristo, mas sinagogas de Satanás; no entanto, Cristo sempre tem tido, e sempre terá, um reino visível neste mundo, até o fim deste, para aqueles que creem nEle, e fazem profissão de Seu nome.

4. Não há outro cabeça da Igreja senão o Senhor Jesus Cristo: tampouco pode o Papa de Roma, em qualquer sentido é o cabeça dela; mas é aquele anticristo, o homem do pecado e filho da perdição que se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus, a quem o Senhor destruirá com o esplendor de Sua vinda.

5. Como o Senhor, em Seu cuidado e amor para com a Sua Igreja, tem em Sua infinita e sábia providência exercido isso, com grande variedade em todas as eras, para o bem daqueles que O amam, e para a Sua própria glória; assim de acordo com a Sua promessa, esperamos que nos últimos dias, o Anticristo sendo destruído, os Judeus chamados, e os adversários do reino do Seu Filho amado arruinados, as igrejas de Cristo sendo ampliadas, e edificadas através de uma comunicação livre…

Confissão de Fé de Westminster (Presbiteriana)

Há 2 Reinos: O Humano e o do Céu. Um é focado no que é comum, civil, natural, e o outro é focado no que é especial, eterno e salvífico.
Um aplica penalidade civil e pode usar a espada, o outro não aplica penalidade civil e não pode usar a espada, mas antes aplica a Palavra de Deus e os sacramentos, e seu julgamento se dá apenas de forma eclesiástica, sem fim civil.
As chaves do Reino de Deus não devem ser dadas aos magistrados civis (Cap. XXIII) que são os principais administradores do Reino Comum, mas antes aos embaixadores do Reino do Céu, os Ministros do Evangelho e os oficiais (Art XXX) da Igreja Visível, o Reino de Deus (Art XXV).

As chaves do Reino Comum foram entregues aos magistrados civis, mas a administração da palavra e dos sacramentos é exclusiva da Igreja.

Capítulo XXIII, Artigo III.

Os magistrados civis não podem tomar sobre si a administração da palavra e dos sacramentos ou o poder das chaves do Reino do Céu, nem de modo algum intervir em matéria de fé;

Capítulo XXV, Artigo II.
A Igreja Visível, que também é católica ou universal sob o Evangelho (não sendo restrita a uma nação, como antes sob a Lei) consta de todos aqueles que pelo mundo inteiro professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos; é o Reino do Senhor Jesus, a casa e família de Deus, fora da qual não há possibilidade ordinária de salvação.

Capítulo XXX, Artigo II.
A esses oficiais estão entregues as chaves do Reino do Céu. Em virtude disso eles têm respectivamente o poder de reter ou remitir pecados; fechar esse reino a impenitentes, tanto pela palavra como pelas censuras; abri-lo aos pecadores penitentes, pelo ministério do Evangelho e pela absolvição das censuras, quando as circunstâncias o exigirem.

Adicionais (Não Reformados)

Confissão de Fé de Augsburgo

Há dois tipos de poder e governo: Um Temporal e Um espiritual. O Temporal protege o que é comum a todos os homens, e seu limite e instituição é comum, ao que é físico e transitório, do qual os magistrados civis lideram, podendo julgar pecados e crimes, até mesmo com pena capital.

O Espiritual é a Igreja, e é apenas dos fiéis, e seu limite é quanto às coisas espirituais, eternas, e não temporais. Seus pastores/bispos possuem o poder das chaves desse reino, e o utilizam de acordo com a pregação do evangelho e dos sacramentos, os benefícios não do poder temporal, mas do poder Espiritual (Art XXVIII).

ARTIGO XXVIII: DO PODER DOS BISPOS

Os nossos ensinam que, de acordo com o evangelho, o poder das chaves ou dos bispos é o poder e ordem de Deus de pregar o evangelho, remitir e reter pecados e administrar e distribuir os sacramentos. Pois Cristo enviou os apóstolos com esta ordem Jo 20: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. Recebei o Espírito Santo. Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos.”

Esse poder das chaves ou dos bispos é praticado e exercido apenas através do ensino e pregação da palavra de Deus e pela administração dos sacramentos a muitos ou a indivíduos, dependendo da vocação que se tiver. Pois com isso se conferem não bens corporais, senão coisas e bens eternos, a saber, justiça eterna, o Espírito Santo e a vida eterna. Não se podem obter esses bens senão pelo ministério da pregação e pela administração dos santos sacramentos. Porque São Paulo diz: “O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.”Visto, pois, que o poder da igreja ou dos bispos confere bens eternos e é praticado e exercido apenas pelo ofício da pregação, de modo nenhum embaraça o governo e autoridade temporal. Porque o poder secular trata de coisas muito diferentes das do evangelho. O poder temporal não protege a alma, porém defende, com a espada e penas físicas, corpo e bens contra poder externo.

Por isso não se devem baralhar e confundir o poder espiritual e o temporal. Pois o poder espiritual tem a ordem de pregar o evangelho e administrar os sacramentos. Também não deve invadir ofício alheio. Não deve entronizar e destronar reis, não deve ab-rogar ou minar as leis civis e a obediência ao governo, não deve fazer e prescrever ao poder temporal leis a respeito de matéria secular, conforme disse o próprio Cristo: “O meu reino não é deste mundo.”150 Também: “Quem me constituiu juiz entre vós?”151 E São Paulo, em Fp 3: “A nossa pátria está nos céus.”152 E na Segunda Epístola aos Coríntios, capítulo décimo: ”As armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas; anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus.”153

Dessa maneira os nossos distinguem os ofícios de ambas as autoridades e poderes e mandam que os dois sejam tidos em honra como os dons mais elevados de Deus na terra.

Onde, porém, os bispos possuem autoridade temporal e a espada, não as têm como bispos, de direito divino, mas de direito humano, imperial, dadas por imperadores e reis romanos, para administração temporal de seus bens. E isso nada tem que ver com o ofício do evangelho.

Breve Confissão de Fé (Batistas Gerais)

Somente Jesus, e nenhum outro é o Rei da Igreja (Art. VII), a companhia de crentes batizados (Art. XII). Ele também é o seu Sacerdote e Profeta, e isso mediante ao seu Poder Meditatorial conseguido após a sua ressurreição e ascensão (Art. VII).

Artigo VII.
Que Jesus… no final foi crucificado, morreu na cruz, ressuscitou, ascendeu ao Céu; e para que Ele seja o único Rei, Sacerdote e  Profeta da Igreja, todo poder nos Céus e na Terra foi dado.

Artigo XII.
Que a Igreja é a companhia de fiéis, batizados após a confissão de pecado e da fé, dotada com o Poder de Cristo.

Conclusão

O escopo da pesquisa principal é quanto às tradições reformadas e puritanas. Porém, os luteranos e batistas gerais entraram devido a sua correlação, e participação especial no debate quanto aos 2 Reinos.
A posição comum encontrada nos reformados diversos, nas variadas tradições, é da existência de 2 Reinos. Um Natural, Comum e Humano comandado pelos magistrados civis, regido pela lei natural e cuja penalidade pode chegar a morte física (pena capital), e um Sobrenatural, Especial e Divino, comandado por Cristo e pelos oficiais da Igreja local, regido por todo conselho de Deus, a lei natural e os mandamentos positivos próprios da Igreja. Um é o Mundo, e o outro é a Igreja.

Embora possam ter variações das dimensões específicas desse Reino de Deus e do relacionamento com o Reino dos Homens, de acordo com a Eclesiologia e a Teologia Pactual de cada Tradição Reformada, ainda assim há uma concordância geral quanto a Teologia dos 2 Reinos, e da sua necessidade tanto lógica como bíblico-teológica, em especial para as tradições de governo eclesiástico Congregacional como os Batistas Reformados, Batistas Gerais e os Congregacionais em si.

Fontes

Confissão de Fé Belga

Segunda Confissão de Fé Helvética

Primeira Confissão de Fé Batista de Londres 1644

Segunda Confissão de Fé Batista de Londres 1689

Confissão de Fé de New Hampshire

A True Confession

Declaração de Fé de Savoy

Short Confession of Faith, by John Smith

Comentário do Catecismo de Heidelberg, Questão 123.1-5, Zacarias Ursinius

Comentário no Catecismo Batista, Questão 29, Benjamin Beddome

Comentário na Confissão de Fé de Westminster, Capítulo 20, Questão 4, David Dickson

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