A Igreja começou em Gênesis 3:15 e a Igreja começou em Pentecostes. Como ambos podem ser verdade?
[Podem] por causa da distinção entre igreja visível/invisível como ela se relaciona a Nova Aliança prometida/estabelecida. Os santos do Antigo Testamento eram salvos da mesma forma que nós somos hoje: pela fé salvífica produzida pelo poder regenerador da habitação do Espírito Santo (CFBL 8.6, 8.8, 10.1, 11.6). Eles foram unidos a Cristo e portanto parte do seu corpo místico, da Igreja (CFBL 26.1). Mas isso não implica que Israel era a igreja (“assembleia”) de Cristo. Israel era uma assembleia, mas não a assembleia de Cristo (Hb 12:23). Embora os regenerados santos do Antigo Testamento fossem parte do corpo de Cristo, eles eram um remanescente dentro do corpo maior da assembleia de Israel (que era governada pela Antiga Aliança). Portanto, crentes fora de Israel não estavam sobre a Antiga Aliança (por exemplo, Ló e Melquisedeque não foram circuncidados – Veja Nehemiah Coxe pág. 117-118). E não foi até que no Pentecostes essa igreja invisível foi ajuntada (“assemblada”) junta como a assembleia de Cristo (a igreja) (LBCF 26.2, 26.5-7). A igreja visível foi instituída em Pentecostes e dadas as ordenanças de adoração e do seu governo. John Owen explicou como isso se relaciona a Nova Aliança como prometida e estabelecida.
Este é o sentido da Palavra νενομοθέτηται (nenomothetithai): estabelecido, que nós dizemos; mas é “reduzido a um estado fixo de uma lei ou ordenança”. Toda a obediência requerida nela, toda a adoração apontada por ela, todos os privilégios exibidos nela, e toda a graça administrada com eles, são todos dados por um estado, lei e ordenança à igreja. Aquilo que antes estava escondido em promessas, em muitas coisas obscuras, os principais mistérios sendo escondidos na mente do próprio Deus, estava agora sendo trazido à luz; e esse pacto que tendo invisibilidade, por meio de uma promessa, foi colocado em sua eficácia sobre tipos e sombras, estava agora solenemente selado, ratificado e confirmado, na morte e ressurreição de Cristo. Ele tinha antes a confirmação de uma promessa, a qual é um juramento; ele tinha agora a confirmação de um pacto, o qual é sangue. Isso que antes não tinha visibilidade, adoração, adoração exterior, própria e peculiar a ele, está agora feita a única regra e instrumento de adoração em toda a Igreja, nada devendo ser admitido se não o que pertence a ela, e é apontada por ela. Isto o apóstolo pretende por νενομοθέτηται (nenomothetithai), o “estabelecimento legal” da nova aliança, com todas as ordenanças da sua adoração. Daqui em diante, a outra aliança foi anulada e removida; e não somente a aliança em si mesma, mas todo aquele sistema de adoração pelo qual ela era administrada. Isto foi feito não pelo fazer da aliança no início, sim, tudo isso foi acrescentado na aliança como dada como uma promessa, e estava consistente com isso. Quando a nova aliança foi dada somente como uma forma de promessa, ela não introduziu uma adoração e privilégios expressivos dela. Porque isso era consistente com a forma de adoração, ritos e cerimônias, e aqueles compostos em um jugo de servidão que não pertencem a ele. E como estes, sendo adicionados depois da sua doação, não derrubam a sua natureza como uma promessa, porque eles não estavam inconsistentes com ele quando foi completado como um pacto; porque então toda a adoração da igreja estava procedendo dela, e sendo conformada a ela. Então ela foi estabelecida. Daí segue, numa resposta a uma segunda dificuldade, que como uma promessa, ela era oposta ao pacto de obras; como um pacto, ela era oposta a esse do Sinai. Isto estabelecendo legalmente ou estabelecendo autoritativamente a nova aliança, e então a adoração pertencente a ela, efetuou essa alteração. (John Owen, Exposição de Hebreus 8:6). A primeira promulgação solene desta nova aliança, então feita, ratificada, e estabelecida, foi no dia de Pentecostes, sete semanas depois da ressurreição de Cristo. E isso respondeu à promulgação da lei no monte Sinai, no mesmo espaço de tempo após a saída do povo para fora do Egito. Deste dia em seguinte, as ordenanças do culto, e todas as suas instituições da Nova Aliança, se tornaram obrigatórias a todos os crentes, E então toda a igreja sendo absolvida de qualquer dever em respeito da antiga aliança, e da adoração nela, embora isso não foi manifesto como ainda nas suas consciências (John Owen, Exposição de Hebreus 8:10).
Leia mais: Quando a Igreja começou?
John Owen, Comentário em Hebreus
Assim a igreja começou tão breve quanto Deus começou a redimir os pecadores perdidos por meio da promessa da Nova Aliança (Gn 3:15), a qual era eficaz para salvar, trazer um indivíduo até a Igreja Invisível. Mas ela não estava [formalmente estabelecida] até a Nova Aliança ser formalmente estabelecida que a igreja visível foi instituída com a sua própria forma de adoração e governo. Considere a Exposição de Samuel Waldron da Confissão de Fé de 1689 neste ponto:
A Bíblia ensina que essa igreja universal consiste de todos os eleitos? Aqui uma distinção é crucial. A igreja é a última, organizada e terrena expressão do povo de Deus. Nós devemos distinguir entre a igreja como uma instituição e a igreja como o povo de Deus. Tal distinção nos habilita a fazer justiça às porções do Novo Testamento que são frequentemente mal interpretadas. Havia um importante senso naquilo que a igreja começou como uma instituição e organismo na complexidade dos eventos ao redor do primeiro advento de Cristo. Havia um sentido em que historicamente a igreja começou na abertura do ministério terrestre, morte, ressurreição e doação do Espírito. Os apóstolos de Cristo são historicamente a fundação sobre a qual Cristo está construindo a sua Igreja (Mt 16:18, Ef 2:20, Hb 12:18-24). A futura tensão na declaração de Cristo: “Eu construirei a minha Igreja”, pode, portanto, ser dada na sua força natural. Embora Israel fosse um tipo da Igreja (Rm 2:28-29, 1Co 10:18, Gl 6:16, Fp 3:3) e embora a igreja seja o novo Israel de Deus e o cumprimento da profecia (Atos 2:16; Atos 15:14-18; 1Co 10:11; Gl 6:16; Ef 2:12-19; Hb 8:7-13), é a verdade que a igreja como uma instituição e organismo não existiam no Antigo Testamento. Essas verdades contradizem a tendência de algumas correntes da teologia da aliança de diminuir as diferenças entre a Igreja e Israel no interesse do pedobatismo. Por outro lado, a igreja é a grande expressão terrena do povo de Deus. Assim é frequentemente usada a linguagem que iguala a Igreja com todos aqueles que estão em união com Cristo. A Igreja é o corpo e a esposa de Cristo (Ef 1:22, Ef 4:11-16, Ef 5:23-27, Ef 5:29, Ef 5:32, Cl 1:18, Cl 2:4). Além disso, a noiva de Cristo é composta nos últimos dias de salvos de toda idade (Ef 5:27, Ap 21:9-14, veja também Mt 8:11-12, João 10:14-17, Hb 11:39-40). Assim a igreja irá um dia ser composta de todos os redimidos. Como o povo de Deus, a igreja consiste ‘do inteiro número dos eleitos’. Essas considerações refutam o dispensacionalismo com a sua distinção entre Israel e a Igreja e que negam que os santos do Antigo Testamento sejam parte da Igreja.
Sam Waldron, Uma Exposição Moderna da Confissão de Fé Batista de 1689
Traduzido de http://www.1689federalism.com/, When Did the Church Begin?