Para quem é a Grande Comissão?

Pesquisa nas Confissões e Comentários do Séc 16-19

Confissões de Fé

39 Artigos da Religião Anglicana, 1562, Cap. 26
Ainda que na Igreja visível, os maus estejam sempre misturado com o bons, e algumas vezes o maus tenham a principal autoridade na Ministração da Palavra e dos Sacramentos, ainda assim como não fazem pelo seu próprio nome, mas no nome de Cristo, e fazem pelo [seu] ministério por meio da comissão e da autoridade, nós podemos usar seu ministério, ambos em ouvir e receber os sacramentos.

Uma Confissão Verdadeira (Confissão de Fé Congregacional), 1596, Cap. 22
Que este ministério [da Palavra] é semelhantemente dado a toda congregação cristã, com o poder e comissão para ter e usufruir o mesmo, como Deus oferece homens e meios adequados, às mesmas regras devem ser para todos, para a eleição e execução do mesmo em todos os lugares.

Confissão de Fé Batista de 1644, Cap. 41
As pessoas designadas por Cristo para dispensar esta ordenança [batismo], as Escrituras o têm como um discípulo que prega, não sendo em nenhum lugar atado a uma particular igreja, ofício ou pessoa extraordinariamente enviada. A comissão que inclui a administração [desta ordenança] deve ser dada a eles sem nenhuma outra consideração, mas como considerados discípulos.

Comentário de um dos autores da Confissão acima Hanserd Knollys explicando
Não afirmamos, que todo discípulo comum possa batizar, houve algum erro

[pelo seu adversário – JMR] ao expor a nossa opinião… Onde é

concebido, que nós acreditamos que todo discípulo possa ensinar a palavra, ou demonstrar Cristo, que possa batizar, e administrar as ordenanças.  Nós não cremos assim. Porque embora mulheres crentes sejam batizadas como discípulas (Atos 9.36), e possa anunciar a Cristo, e que algumas delas (pelo seu experimental conhecimento e entendimento espiritual entendam o caminho, ordem e fé do Evangelho) possam ser hábeis para instruir seus professores (Atos 18.26, Rm 16.3) ainda assim nós não cremos que uma mulher possa pregar, batizar ou administrar outras ordenanças. Nem mesmo julgamos ser, que qualquer irmão batize, ou administre outras ordenanças, a menos que ele tenha recebido tais dons do espírito, sendo apto ou habilitado para pregar o Evangelho. E esses dons sendo primeiro testados, e conhecidos da Igreja, tal irmão é escolhido [como pregador]  e ordenado assim por voto da igreja.

Confissão de Fé Batista de 1689, Cap. 28, Art. 2
Estas santas ordenanças devem ser administradas somente por aqueles que são qualificados e para isso chamados de acordo com a comissão de Cristo. (Mateus 28:19 e 1 Coríntios 4.1)

Comentário na Confissão de Fé de Westminster, por David Dickson (Presbi – Covenanter), Séc 17, Cap 21.8
É evidente que o batismo e a ceia do Senhor estão em conjunto na instituição de Cristo, com o ministério da Palavra. Porque para aqueles que Ele deu a comissão de pregar, para eles também, Ele deu a comissão de administrar os sacramentos.

Catecismo de Fisher (Presbiteriano), 1765, Questão 95.3
Por que apenas os ministros ordenados, e não outras pessoas, devem administrar os sacramentos do Novo Testamento?

R= Porque somente eles são os “despenseiros dos mistérios de Deus” (1 Co 4.1) e têm a comissão e autoridades únicas de Cristo para pregar e batizar (Mt 28.19), “Portanto vão, e ensinem todas as nações, batizando-as…”

Comentário no Catecismo Batista por Benjamin Beddome, 1752, Questão 29.18
Ele comissionou oficiais?
R= Sim.
Ele deu uns para apóstolos e outros para profetas… (Ef 4.11)

Comentário na Confissão de Fé de Westminster por A.A Hodge, 1865, Cap 15.4
Que isso deveria ser diligentemente pregado por cada ministro do evangelho é (1) Auto-evidente da natureza essencial do dever. (2) Porque tal pregação estava incluída na comissão dada aos apóstolos (Lc 24.47-48). (3) Por causa dos exemplos dos apóstolos (Atos 20.21).

Cap 27.4
Nossa confissão também adiciona que ninguém tem o direito de administrar os sacramentos se não for um ministro legalmente ordenado. Isso não é dito no interesse de qualquer teoria sacerdotal do ministerial, como se houvesse qualquer graça ou conferência de graça virtualmente transmitida pela ordenação em sucessão dos apóstolos para a pessoa ordenada. Mas uma vez que a Igreja é uma sociedade organizada, sobre leis executadas por oficiais regularmente ordenados, é evidente que ordenanças — que são os emblemas da membresia da Igreja, os portões do aprisco, os instrumentos da disciplina, e selos do pacto formados pelo grande Cabeça  da Igreja com seus membros vivos — podem propriamente ser administrados somente pelos mais altos oficiais legais da Igreja, aqueles que são comissionados como embaixadores de Cristo para tratar em seu nome com os homens (1Co 4.1-2, 2 Co5.20).

O que é presbiterianismo?
O terceiro argumento no assunto é derivado da comissão dada de Cristo à sua igreja, “Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura; e Eu estou contigo todos os dias, até o final do mundo”. 

Esta comissão impõe um certo dever; ele transmite certos poderes; e inclui uma grande promessa. O dever é espalhar e manter o evangelho em sua pureza sobre toda a terra. Os poderes são aqueles requeridos para o cumprimento desse objeto, o poder de ensinar, de regular e exercer disciplina. E a promessa é a certeza da presença e assistência perpétua de Cristo. Como nem o dever de estender e sustentar o evangelho em sua pureza, nem a promessa da presença de Cristo é peculiar para os apóstolos como uma classe, ou para o clérigo como um corpo, mas como ambos o dever e a promessa pertencem a toda Igreja, assim também da necessidade faz os poderes de possessão daqueles em que a obrigação descansa.

O mandamento de “Ide por todas as nações” “para pregar o evangelho a toda criatura” cai na responsabilidade de toda a Igreja. Ele causa uma emoção em todo coração. Cada cristão sente que o mandamento é endereçado para o seu corpo do qual ele é um membro, e que ele tem uma obrigação pessoal de o executar.
Não é o ministro sozinho para quem esta comissão foi dada, e portanto não é para eles apenas que os poderes que ela transmite pertence.

Comentários

João Calvino, Século 16, Comentário em Mt 28.19
…O Senhor ordena os ministros do Evangelho a ir até uma distância, em ordem de espalhar a doutrina da salvação em toda parte do mundo…

David Dickson (Presbi-Covenanter Escocês), 1651, Comentário em Mt 28.18-20
Cristo instituiu um ministério de mestres e dirigentes para Sua Igreja. Isto deve permanecer desde sua ressurreição até a consumação dos séculos.
Ele lhes diz para irem, fazerem discípulos e ensiná-los a obedecê-Lo. “E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”.
A comunidade de ministros e dirigentes da Igreja tem todas as nações da terra sob sua responsabilidade. Eles reúnem discípulos para Cristo a partir delas. Ele diz a 

eles para irem e fazerem discípulos de todas as nações.

John Gill (Batista Reformado), Século 18, Comentário em Mt 28.20
Ensinando-os a observar todas as coisas … Todas ordenanças, não somente batismo, mas também a Ceia do Senhor, todas as instituições positivas e deveres morais; todas as obrigações, ambas para Deus e para os homens; todos os deveres relativos com respeito ao mundo, ou ao próximo, aqueles que estão longe, e aqueles que estão perto; e aqueles que devem ser ensinados, e portanto deve ser insistido pelo ministério da Palavra; e não meramente para que eles possam conhecê-los, e ter a teoria deles, mas que possam colocá-los em prática.

Richard Ward (Reformado), Século 17, Comentário em Mt 28.19-20
Segundo lugar, nós acreditamos que os Pastores da Igreja de todas as épocas têm a comissão de ensinar semelhantemente, mas isso prova que nem todo ensinamento pode ser infalível sempre, porque a natural corrupção os acompanha, eles podem falhar naquilo que foram ordenados a fazer.

Matthew Henry, Século 17, Comentário em Mt 28.19-20
A comissão ele dá para aqueles que Ele enviou; “Ide portanto”. Essa comissão é dada

  1. Primariamente para os apóstolos, os ministros-chefe do reino de Cristo, os arquitetos que lançaram os fundamentos da Igreja…
  2. É dado aos seus sucessores, os ministros do evangelho, de qual atividade é transmitir o evangelho de era a era, até o fim do mundo no tempo, assim como era de transmitir de nação a nação, até o fim do mundo em espaço, e não menos necessário…  

Augustin Marlorat (Reformado), 1570, Comentário em Mt 28.19
E isso pregando o Evangelho que Cristo aqui comissionou para os ministros da Palavra, que também deve pregar o arrependimento junto com ele, assim como São Marcos ensina dizendo que Cristo assim pregou.

George W. Clark (Batista), 1870, Comentário em Mt 28.19
Portanto Vão… Isto foi dito não apenas para os apóstolos somente, mas para toda a igreja. Todos foram agora comissionados como os propagadores do evangelho.

Conclusão

Tendo em vista a delimitação da pesquisa, nas fontes citadas, quanto a questão “Para quem é a grande Comissão?” tendo como foco a sua continuidade, as posições  encontradas foram respectivamente:

  1. A Grande Comissão foi dada aos Ministros da Palavra (Apóstolos, Pastores etc.)
  2. A Grande Comissão foi dada a Toda a Igreja, porém, de forma distinta aos membros comuns e aos Ministros da Palavra
  3. A Grande Comissão foi dada a todos de forma igual.

A 1° posição é tomada pelos batistas reformados, a maioria presbiteriana, reformados no geral e anglicanos.

Já a 2° posição é defendida pelos congregacionais e por um presbiteriano. 

Enquanto que a 3° posição é defendida apenas por um batista e no final do século 19. Que embora, o teólogo aplique a Grande comissão para todos os crentes, não explica quanto às minúcias das partes da comissão, como a questão “Todas as partes da comissão foi dada a todos igualmente?”, o que implica numa próxima pesquisa para o assunto específico ou numa atualização desta.

Referências
39 Articles of Religion

A True Confession

London Baptist Confession of 1644

The Shining of a Flaming Fire in Zion, Hanserd Knollys

1689 London Baptist Confession of Faith 

Fisher’s Catechism

Commentary on Baptist Catechism by Benjamin Beddome

Truth’s Victory Over Error: A Commentary on the Westminster Confession of Faith

The Commentary on Westminster Confession of Faith by A.A Hodge

Calvin’s Commentary on the Bible

Gill’s Exposition of the Whole Bible

A Grande Comissão, David Dickson Commentary on Matthew 

Theological questions, dogmatic observations, and evangelical essays, upon the Gospel of Jesus Christ, according to St. Matthew, Richard Ward

Henry’s Complete Commentary on the Bible

Notes on the Gospel of Matthew; Explanatory and Practical – George W. Clark

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