A natureza das línguas: Charles Hodge

A natureza das línguas
Charles Hodge
(extraído do seu Comentário em 1 Coríntios – 12:10)

“Para diversos outros tipos de línguas” Isso é, a habilidade de falar idiomas previamente desconhecidos pelos falantes. A natureza desse dom é determinada pelo relato dado em Atos 2:4-11, onde é dito, os apóstolos falaram “em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” e pessoas de todas as nações vizinhas perguntaram com temor, “não são galileus todos esses homens que estão falando?Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?” É impossível negar que esse milagre registrado em Atos consiste em habilitar os apóstolos a falar em idiomas que eles nunca tinham aprendido. A menos, portanto, que se assuma que o dom de qual Paulo aqui fala era alguma coisa de uma natureza totalmente diferente, seu caráter é tomado como incontestável.

A identidade dos dois, entretanto, é provada do mesmos termos pelo qual eles são descritos. Em Marcos 16:17, foi prometido que os discípulos deveriam falar “em novas línguas.” Em Atos 2:4, é dito que eles falaram “noutras línguas.” Em Atos 10:46, e 19:6, é dito daqueles sobre quais o Espírito Santo veio, que “eles falaram em línguas.” Dificilmente pode ser duvidado que todos aquelas formas de expressão são entendidas no mesmo sentido, que o falar “em línguas” em Atos 10:46 significa a mesma coisa  que falar “em outras línguas” em Atos 2:4, e que isto novamente significa a mesma coisa que falar “em novas línguas” como prometido em Marcos 16:17. Se o sentido da frase é então historicamente e filologicamente determinado por Atos e Marcos, deve também ser determinado para a epístola de Coríntios. Se línguas significa idiomas antes, então deve ter o mesmo significado depois.

Nós temos assim dois argumentos a favor da antiga interpretação dessa passagem. Primeiro, que os fatos narrados em Atos necessita da interpretação da frase “falar em outras línguas” significando falar idiomas desconhecidos. Segundo, que o intercâmbio das expressões, “novas línguas”, “outras línguas”, e “línguas”, em referência ao mesmo evento, mostra que o último mencionado(falar em línguas) deve ter o mesmo sentido com as 2 expressões anteriores, quais só podem significar falar em novos idiomas. Um terceiro argumento é, que a interpretação comum satisfaz todos fatos do caso. Os fatos são:

 

  1. Que as línguas faladas eram inteligíveis para aqueles que entendiam idiomas estrangeiros, como aparece em Atos 2:11. Então o que era falado não era uma incoerente e ininteligível rapsódia.
  2. O que era expressado eram sons articulados, o veículo do orador, adoração e ação de graças, 1 Coríntios 14:14-17.
  3. Eles eram edificados, e então inteligíveis para aqueles que a ouviam, 1 Coríntios 14:4, 16.
  4. Eles admitem a possibilidade de serem interpretadas, o que supõe que elas eram inteligíveis
  5. Embora inteligível nelas mesmo, e para o falante, elas(as línguas) eram ininteligíveis para outros, isso é, aqueles que não estavam familiarizados com a língua usada, e consequentemente inapta para um cristão comum da igreja. A loucura de qual Paulo refuta era, falar hebraico para homens que só entendiam grego. O falante podia entender o que era dito, mas outros não estavam tendo proveito, 1 Coríntios 14:2, 19.
  6. A ilustração aplicada em 1 Coríntios 14:7, 11, de instrumentos musicais, e do caso de estrangeiros, requer a interpretação comum. Paulo admite que os sons expressos “não eram sem significação,” v. 10. A acusação dele é, que um homem que fala numa língua desconhecida é para ele um estrangeiro, v. 11. Esta ilustração supõe que os sons expressados para ser inteligíveis neles mesmos, mas não entendidos por aqueles quais eles estavam endereçando.
  7. A interpretação comum é adequada mesmo para aquelas passagens quais apresentam a única real dificuldade no caso; a saber, aqueles em quais o apóstolo fala do entendimento como sendo infrutífero no exercício do dom de línguas, e aqueles quais ele contrasta oração com o espírito e oração com o entendimento, 14:14, 15. Embora essas passagens, pegadas por si próprias, possam parecer indicar que o falante por si só não entendia o que ele dizia, e mesmo que o intelecto dele estivesse em suspensão, elas ainda podem naturalmente significar apenas que a compreensão do falante era inútil aos outros; e falando com o entendimento possa significar falando de forma inteligível. Não é necessário, assim, inferir dessas passagens, que falar em línguas era falar num estado de êxtase, de um jeito ininteligível para qualquer ser humano.
  8. A interpretação comum também é consistente com o fato de que o dom de interpretação era distinto do que esse de falar em línguas. Se um homem poderia falar uma língua desconhecida, por que ele não poderia interpretá-la? Simplesmente, porque não era o dom dele. O que ele disse nessa língua desconhecida, ele disse sobre o controle do Espírito,  teve ele tentativa de interpretá-la sem o dom de interpretação, ele estaria falando dele mesmo, e não “como o Espírito dava o que eles falavam” No primeiro caso ele era o órgão do Espírito Santo, no outro não era.

Quarto argumento. Aqueles que se afastam da interpretação comum do dom de línguas, diferem indefinidamente entre eles mesmos sobre a sua verdadeira natureza.. Alguns assumem que a palavra línguas (glw~ssai) não significam idiomas, mas modismos ou formas de expressões peculiares e distintas. Falar em línguas, de acordo com essa visão, é falar num estilo poético exaltado, além da compreensão das pessoas comuns. Mas tem sido provado das expressões novas e outras línguas, e de outros fatos registrados em Atos, que a palavra glw~ssai (línguas) deve significar idiomas. Além disso, falar exaltado num idioma não é falar inteligivelmente. Os gregos entendiam o nível elevado dos seus oradores e poetas. Esta interpretação também da a palavra glw~ssai um sentido técnico desconhecido por todo o seu uso nas escrituras, e isso é inteiramente inadmissível, no mínimo nesses casos onde o singular é usado.Um homem se diria falar em “frases”, mas não em “uma frase”. Outros dizem que a palavra significa a língua como o órgão físico da fala; e falar com a língua é falar num estado de excitação no qual o entendimento e vontade não controlam a língua, a qual é movida pelo Espírito para falar sons que são ininteligíveis para o falante como para os outros.  Mas esta interpretação Mas essa interpretação não serve para as expressões outras línguas e novas línguas, e é irreconciliável com o relato de Atos. Além de degradar o dom num mero frenesi. Está fora da analogia com os fatos bíblicos. Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Os profetas do Antigo Testamento não estavam além deles mesmos, e os apóstolos no uso do dom de línguas eram calmos e racionais, falando os maravilhosos feitos de Deus num jeito que os estrangeiros reunidos em Jerusalém facilmente entenderam. Outros, novamente, admitem que a palavra línguas significa idiomas, mas negam que eram idiomas desconhecido para os falantes. Falar em línguas, dizem eles, era falar em uma incoerente, maneira ininteligível, num estado de êxtase, quando a mente estava completamente retirada do mundo real, e inconsciente das coisas sobre ele, como num sonho ou transe. Isto, entretanto, está sujeito às objeções já aduzidas contra as outras teorias. Além disso, é evidente de toda a discussão, que aqueles que falaram em línguas eram auto-controlados. Eles poderiam falar ou não como eles quisessem. Paulo os censura por falar quando não era a ocasião para falar, e de tal modo produzindo confusão e desordem. Eles estavam, portanto, não num estado de excitação incontrolável, inconsciente do que eles diziam ou faziam. É necessário continuar esta enumeração de conjecturas, o que já tem sido dito está fora de questão se as opiniões referidas não tivessem encontrado aceitação na Inglaterra e no seu próprio país.

O argumento contra a visão comum da natureza do dom de línguas, (fora as dificuldades exegéticas as quais pensam ser difíceis) não são tais como fazer mais impressão sobre mentes acostumadas a reverenciar as Escrituras.

  1. É dito que o milagre era desnecessário, como grego era entendido em todo lugar que os apóstolos pregavam. Isto, sem dúvida, é uma grande verdade. Grego era o idioma das pessoas educadas sobre o império Romano, mas não tinham substituído os idiomas na vida comum; e nem as pregações dos apóstolos eram confinadas ao império romano. Além disso, isto supõe que o único plano do dom era facilitar a pregação do evangelho. Isto era sem dúvida um dos propósitos que ele pretendia responder; mas ele tinha outros usos importantes. Ele servia para provar a presença do Espírito de Deus; e simbolizar o chamado aos gentios e o interesse comum de todas as nações no Evangelho. Veja o comentário em Atos 2:4.
  2. É dito que Deus não é prático por milagres removendo dificuldades fora do caminho das pessoas, quais poderiam ser ultrapassados por trabalho.
  3. Outros dizem que é impossível que um homem deveria falar num  idioma que ele nunca tivesse aprendido. Mas daí não segue que Deus não pode dá-lo a habilidade?
  4. Parece que Paulo e Barnabé não entendiam o discurso de Licaônica, Atos 14:11-14. o dom de línguas, entretanto, não era a habilidade de falar todos os idiomas. Provavelmente a maioria daqueles que receberam o dom, só poderia falar um ou dois, Paulo agradeceu a Deus porque ele tinha o dom de maneira mais rica que todos os Coríntios.
  5. O dom não parece ter sido feito subserviente para o trabalho missionário. Ele certamente foi em primeira instância, como registrado em Atos, e pode ter sido depois.
  6. Paulo, em 1 Coríntios 14:14-19, não coloca falar em línguas e falar em sua própria língua em oposição; mas falar em entendimento e falar em espírito; e portanto falar em línguas, é falar sem entendimento, ou em estado de êxtase. isto é uma interpretação possível desta passagem considerada em si própria, mas é uma contradição direta a todas aquelas passagens que provam que falar em língua não era involuntário, incoerente, em estado de êxtase.

A passagem referida, entretanto, deve ser entendida em consistência com as outras passagens referentes ao mesmo assunto. Embora existam dificuldades presentes em qualquer visão dos dons na questão, que surgem da nossa ignorância, aqueles conectados com a interpretação comum é incomparavelmente menor a aqueles que são prejudicados por qualquer tipo de conjectura moderna.

Autor

Charles Hodge, (1797-1878), foi um dos principais teológicos do século dezenove. Nascido na Filadélfia, filho de um cirurgião do exército, ele foi educado em Princeton, se graduou na faculdade em 1815 e no seminário em 1819. Os seus estudos teológicos sobre Archibald Alexander determinou a obra da sua vida. Ele se tornou professor no Seminário de Princeton em 1820, e permaneceu lá pelo resto da sua vida, exceto pelos dois anos de estudo na França e Alemanha (1826-28). Ele foi professor de leitura bíblica e oriental (1822-40), e então professor de teologia. Sua própria teologia era centrada na Confissão de Westminster com traços claros do Calvinismo escolástico, notavelmente de Turrentine. Seus pensamentos eram governados por uma forte visão da inspiração verbal e infalibilidade. Enquanto o Calvinismo ortodoxo estava declinando nos pensamentos Americanos, e a ideia do evolucionismo estava iniciando a exercer uma força rara, Hodge inabalavelmente  defendeu uma inspiração bíblica supernatural e assim colocou a sua marca sobre o que veio a ser chamado de  “Teologia de Princeton.” Isso teve uma influência poderosa, não somente pelo seu própria Velha Escola de Círculos Presbiterianos, mas noutras igrejas tão bem.

Seus escritos carregaram as sua influência sobre os 3000 estudantes que ele ensinou durante meio século. Ele começou o Repertório Bíblico em 1825(Posteriormente chamado de Repertório Bíblico e Review Teológico, e depois em 1836 o Repertório Bíblico e Review Princeton) e editou por mais de 40 anos. Seu primeiro livro, Um comentário na epístola aos Romanos(1835; 19° ed, 1880), estabeleceu a sua bolsa de estudo. Sobre os seus trabalhos posteriores nenhum exerceu maior influência que a sua teologia sistemática(3 vols, 1872-73).

Ele também ficou na  posição de comandante na Igreja Presbiteriana. Ele foi moderador da Assembleia Geral(Escola Velha) em 1846, e um membro proeminente do campo missionário e educacional. Na controvérsia de 1837 ele se opôs às visões doutrinárias e políticas da Nova Escola. Quando a divisão veio, ele a suportou.

Traduzido de http://www.the-highway.com/tongues_Hodge.html

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